PODER(ES)

Uma vez, numa aula de teoria política em meus tempos do bacharelado de história, o saudoso professor José Caldeira falava sobre a essência do poder, da sua estrutura e de seus fins; lembro dele falar sobre quatro exercícios de poder : pela persuasão, pela força, pelo exemplo e pelo dinheiro. Não pude deixar de pensar

OS MELHORES ANJOS

O dia 04 de Março de 1861 não nascia auspicioso. Abraham Lincoln, décimo-sexto presidente dos EUA, fazia seu discurso de posse num Capitólio ainda em construção, reflexo, ao mesmo tempo, da esperança na construção de uma democracia forte, mas também de angústia por essa mesma democracia ser ameaçada de rachar por dentro, seus próprios filhos

A Terceira Gota

Era o de sempre. Café com duas gotas de adoçante e água com gás. Dava o primeiro gole, para “abrir a língua”; a atendente já sabia do hábito e não deixava por menos, o café e o adoçante seguindo o ritual de todos os dias, após o almoço. Mas, não se sabe bem por que,

O Estrago Está Feito, Que Venha A Dança dos Dragões

As imagens da invasão da Praça dos Três Poderes , na tarde do dia 8 de Janeiro, ainda estão frescas na memória, por mais que se achem razões para esquecê-las. Da depredação aos gestos escatológicos, não há justificativa que caiba nos atos dos que, dizendo-se “patriotas” (como se a paga recebida para participar da horrenda

Margaridinha Amarela

Frio. O vento assobia na janela, e olho um tanto para a rua , outro para a boina e o cachecol pendurados no mancebo do lado da entrada da sala. O edredom espalhado no sofá e a taça de vinho sobre a mesa completam meu dilema.  Mas, no fim , o a boina e o

O Bojador de todos nós

No limite do mundo conhecido até então, no desafiador desfiar dos séculos XV-XVI, o Cabo Bojador era um muro invisível de mistério, de águas ferventes e monstros marinhos perigosos, bocarras e dentuças abertas a devorar incautos… Mas veio a coragem de marujo, coragem dedilhada em notas de guitarra, no assobio dos ventos, em dores de

Uma história de aquecer

“Quem bate? É o frioooo….” Eu era ainda sem muitos saberes da vida, naqueles anos 70 que não tinham muita novidade, dia atrás do outro, de futebol a novelas, no ritmo marcado pelo tempo de escola, sem nada mais que rotina. A TV, porém, era a porta mágica que me levava para tantos lugares que

As Agulhas de Minha Avó

Elas ainda devem estar lá, em sono eterno, na frieza do estojo, como se fossem instrumentos de outra era, sem lugar em nosso tempo, em algum lugar da casa. Mas houve dias em que elas, em mãos hábeis, tratavam, curavam, salvavam vidas, no mutismo de seu afazer de saúde. Era um momento em que o

O Fim da Ronda

Num bar de esquina, outono de 1950 Tirou uma longa tragada no cigarro, com a maior tranquilidade. Estava ali, na calçada, cabelo castanho desalinhado, maquiagem borrada, a alça direita do vestido pendendo do ombro. Os borrifos do sangue ainda estavam no rosto, escorrendo pelo queixo e caindo na sarjeta. Nada disso, porém, a perturbava, os

Uma História de Vizinhança

“a vizinha quando passaCom  seu vestido grená…”  Era uma festa, em qualquer tempo.                               Da mercearia ao bar, passando pelo posto de serviço, olhares se juntavam, parando tudo. Até os que ficavam a discutir acirradamente política na esquina do Savério, um português que se gabava de ter confrontado o próprio Salazar, emudeciam pra ver ela passar,